quinta-feira, 31 de julho de 2008

Curso para Pais sobre os perigos da Internet

Este artigo saiu na Revista Olhar, do Jornal da Madeira, texto de Lúcia Mendonça da Silva. Publico porque acho-o de grande importância, e assim estamos à alerta de alguns perigos da nossa sociedade.

OLHAR— O workshop que está a promover alerta sobretudo os pais em relação ao site hi5. Porque escolheu este site, em especial?

Tito Morais — Ignorar o hi5 é como ignorar um elefante na nossa sala de estar. O hi5 é o segundo site com mais tráfego a partir de Portugal, e no primeiro semestre de 2008 liderou em termos de páginas visitadas com perto de 3,6 milhões de páginas, foi o site a quem os portugueses dedicaram mais tempo (quase 21 milhões de horas), foi 3.º em tempo despendido por utilizador (9h44m por utilizador) e foi 8.º em termos de número de utilizadores. O hi5 foi ainda a 2ª expressão mais pesquisada pelos internautas portugueses nos primeiros 6 meses de 2008. Por outro lado, o próprio hi5 afirma que 43% dos seus utilizadores têm entre 15 e 24 anos. Isto apesar dos seus termos e condições referirem os 13 anos como idade mínima para aderir e sendo certo que muitos jovens de idade inferior a esta, mentem para poderem aderir. A dimensão do hi5 no panorama da Internet em Portugal faz com que não possa ser ignorado.

OLHAR — Quais são as questões mais frequentes dos pais que assistem ao seu workshop?

Tito Morais —As perguntas daqueles que se inscreveram são muito abrangentes, mas incidem sobretudo nos aspectos relacionados com a privacidade e segurança dos utilizadores mais jovens.

OLHAR — Tem conhecimento de alguma história que tenha motivado ainda mais o seu interesse pela segurança na Internet?

Tito Morais — Inúmeras. Quase que não há dia que passe em que não receba um email de um leitor/leitora a agradecer-me o trabalho que desenvolvo e a ajuda que lhes proporciono através do que escrevo, o que é extremamente gratificante. E mais pontualmente, de pessoas que vivem situações dramáticas de que me procuram para resolver um problema relacionado com uma experiência desagradável com a Internet.

OLHAR — O facto dos jovens e crianças exporem as suas imagens representa já um perigo?

Tito Morais — Sim, a divulgação de dados pessoais é um comportamento de risco. No entanto, um estudo recente do “Crimes Against Children Research Center” da Universidade do New Hampshire, nos Estados Unidos, demonstra que o contacto com estranhos, falando de sexo ou assediando e agredindo outros, representam um risco maior. O perigo não está tanto naquilo que se revela mas nos comportamentos e nos conteúdos das conversas dos jovens.

OLHAR - Quando é que começou a interessar-se pela área da segurança infantil na internet? Que resultados tem obtido com esta acção?

Tito Morais — O meu interesse por este domínio vem desde 2000/2001, quando trabalhava num operador de serviços Internet para empresas e estive envolvido num projecto internacional no domínio da segurança da informação. No entanto, passei a dedicar-me mais intensamente ao tema em 2003 quando deixei de trabalhar para essa empresa. Ao nível dos resultados, é com satisfação que verifico que este passou de um tema esquecido em 2003, quando comecei a escrever sobre o assunto, a um tema que está na agenda da sociedade portuguesa. Outros indicadores é o facto da newsletter MiudosSegurosNa.Net ter crescido da dúzia de assinantes em 2004 para actualmente ter mais de 7.000. Outro indicador é o facto de nos primeiros 6 meses deste ano ter participado no mesmo número de acções de sensibilização e formação que em todo o ano de 2007. E por fim, o feedback que recebo directamente dos leitores e dos participante neste tipo de acções.

OLHAR — Como pai, que cuidados tem para com os seus filhos quando se trata de navegar na Internet?

Tito Morais — Para mim, a palavra-chave é ACOMPANHAMENTO. Na Internet e fora dela. Tanto quanto possível procuro não me abstrair da utilização que fazem da Internet. Uso-a com eles. Gosto e estimulo-os a mostrarem-me o que fazem e mostro-lhes o que eu faço na Internet. Falamos sobre isso e sobre as nossas descobertas e interesses. Procuro que a utilização da Internet seja uma experiência familiar.

OLHAR — Fala-se muitas vezes do facto da Internet ser um mundo virtual e isso ajudar a tornar o “inimigo” invisível. Como poderia, no seu entender, ser resolvida a questão da segurança na Internet, por forma a que todas as crianças e jovens pudessem tirar o melhor partido desta ferramenta de informação?

Tito Morais — Há duas coisas que é preciso ter bem presentes a este nível. Por um lado, segurança a 100% é algo que não existe. Os riscos não se eliminam. O que podemos é minimizá-los. Por outro lado, os adolescentes terão sempre comportamentos de risco. Faz parte do seu processo de crescimento e desenvolvido. Estas são algumas das razões que aponto para prevenir as pessoas, sobretudo pais e educadores, que não existem soluções milagrosas para a segurança online de crianças e jovens. Assim, a solução que recomendo é a adopção de quatro tipos de abordagens: tecnológicas, parentais, educacionais e legais.

OLHAR — Aos jovens, que muitas vezes são aliciados para comportamentos menos correctos e até desviantes devido às redes que incentivam o suicídio, as drogas e outros problemas, como podem os adultos prevenir essa situação?

Tito Morais — As crianças que estão verdadeiramente em risco na Internet relativamente ao tipo de situações referidas, já estão em risco “cá fora”, no mundo real. Nestes casos, a Internet até pode ser usada como um meio auxiliar de diagnóstico que pode ajudar a detectar problemas que nos passam despercebidos. A chave aí é o acompanhamento parental, isto é, os adultos - pais e professores, sobretudo - usarem e acompanharem os filhos ou alunos na utilização que estes fazem das tecnologias. Um jovem que apresenta tendências suicidas ou para o consumo de drogas ou para outros comportamentos desviantes precisa de acompanhamento especializado, para além do acompanhamento parental na Internet e fora dela. Não é um problema da Internet. É um problema de pessoas.

OLHAR - Seria possível "barrar" por completo os sites com conteúdos menos próprios? Por exemplo, existem motores de busca que, muitas vezes numa pesquisa "inocente", apresenta resultados impróprios para crianças. O que devem fazer os pais e educadores para evitar esta situação?

Tito Morais — Podemos minimizar o risco de crianças acederem a conteúdos impróprios na Internet. Minimizar é possível, mas garantir por completo que não acedem a esse tipo de conteúdos na Internet, é impossível. Só se não a usarem a Internet. E mesmo assim... De facto, as pesquisas de imagens e não só nos motores de busca podem resultar na exposição a conteúdos impróprios. No entanto, alguns motores de pesquisa, como é o caso do Google, oferecem funcionalidades de filtragem que podem ser activadas e que reduzem drasticamente esse risco.

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